Intimidades

quarta-feira, maio 03, 2006

A Afectividade nas Relações

“Mais alguém poderá explicar assim uma paixão? Quando o sabor que encontramos não é o que se anunciava, mas um outro, tanto melhor. Algo de novo, distinto, intenso. Um sabor que nos desorienta, que nos domina, que nos invade e expulsa de nós o peso da solidão. Um sabor que não existe em parte nenhuma, excepto na nossa imaginação, mas que é ao mesmo tempo o mais profundo das nossas vidas, juntamente com o medo de que se extinga, de que se gaste (...).”

“Era ela. Era a sua beleza. Os olhos das pessoas perseguiam-na e não apenas os meus. Pisava o chão como se tudo fosse dela, como se cada pedaço estivesse ansioso por sentir os seus pés. Era esse o seu encanto. E o meu para ela o de acreditar que era eu quem a deitava no chão, que o chão era eu. (...)”

“Ela escapava-se. Escapava-se de mim como um pensamento que se intui e acaba por não aparecer, como uma palavra que se tem na ponta da língua e apesar de tudo não se consegue pronunciar (...). Ou escondida. Escondida como ela, atrás do silêncio. Não falávamos de amor. Não o nomeávamos. Não era preciso. Por vezes, acredita-se que as coisas se subentendem, e não é assim. E perdemo-nos. Não apenas eu para ela, mas também ela para mim. Talvez tenha demorado a dar conta disso. (...)”.

(excertos do livro "Dá-me prazer" de Flavia Company)